Estivemos no abrigo Vale do Sol que é o local onde a maior parte dos que estavam no abrigo chamado Caic Dom Pedro foram levados, na calada da noite, da última quarta-feira pela prefeitura em mais uma ação desumana e autoritária. A "assistência social" daquela cidade chegou ao local ordenando que todos colocassem seus pertences (o pouco que sobrou do massacre) em sacos de lixo para que o transporte fosse realizado e que isso seria feito por bem ou por mal. O verdadeiro Estado de exceção, instalado!
Além de mais essa violência é possível verificar nos depoimentos que a situação das famílias que estão naquele abrigo só piorou (sim, isso foi possível ocorrer!). O local, que possui um ginásio de esporte e uma quadra de bocha, que desde o massacre estava lotado de ex-moradores do Pinheirinho, se tornou superlotado. O banheiro feminino não possui divisória fazendo com que não exista privacidade. Quando chove, as famílias sofrem porque não há proteção suficiente da cobertura do ginásio, molhando tudo e todos que nele se encontram. Falta comida (o que eles recebem é como uma ração estragada feita por uma empresa terceirizada pela criminosa Prefeitura), roupas, produtos de higiene pessoal, fraldas para as dezenas de crianças e pessoas com necessidades especiais que lá estão e, principalmente, dignidade.
A barbárie não tem fim. Ouvi o depoimento emocionado de uma desabrigada, que chegou recentemente do Caic seguindo as ordens do poder local, e ela conta que alguns dias depois da expulsão do Pinheirinho saiu e busca de uma nova moradia. Ao retornar no início da noite para o abrigo onde estava a sua família, foi abordada por um homem, ameaçada e estuprada. Perguntei se ela conseguiria reconhecer o estuprador e se era policial e ela me respondeu com certa apreensão que não teria como afirmar isso e que não foi à delegacia formalizar a denúncia do ocorrido por já ter perdido tudo e também por não saber a reação da polícia diante do fato. Perguntei se ela gravaria esse depoimento e ela se negou. Atitude compreensível, uma vez que se está vivendo sob o Estado de Exceção.
Aquelas famílias jogadas e amontoadas no Vale do Sol ainda sofrem com o poder paralelo do tráfico que, depois de baixar a poeira do massacre, se rearticulou e está agindo contra aqueles milhares de trabalhadores, com ameças e cobrança de "pedágio". Ou seja, os desabrigados são massacrados de um lado pelo poder oficial e de outro pelo poder paralelo. Terror vinte e quatro horas por dia sem tem a quem recorrer.
Procurei notícias do estado de saúde do ex-morador de Pinheirinho Ivo Teles dos Santos e fui informado que o seu caso é grave. Ele continua na UTI e aguarda na fila para a realização de uma traqueostomia. Junto com isso, a família segue tendo dificuldades de visitá-lo e o seu prontuário médico ainda não foi mostrado pelo hospital. Para tanto, foi necessário o pedido de uma liminar ao juiz para que se tenha conhecimento do que realmente ocorreu com Ivo.
Diante de mais essa visita a São José dos Campos, reitero o que escrevi nesse blog anteriormente. Todos os poderes constituídos (Municipal, Estadual e Federal) são cúmplices dessa situação de absoluta agressão aos Direitos Humanos uma vez que os dois primeiros participaram diretamente desse inclassificável episódio (são assassinos), e o terceiro pela omissão criminosa. Onde está a Sra. Dilma Rousseff, Presidente deste "país"? Onde está o Sr. José Eduardo Cardozo, Ministro da Justiça? Lamentavelmente, o silêncio subscreve a bárbarie ocorrida! O único representante eleito pelo povo, no âmbito federal, que se movimentou diante do ocorrido foi o Senador Eduardo Matarazzo Suplicy! No âmbito estadual, o deputado Adriano Diogo também se fez presente e no âmbito municipal a vereadora Amélia Naomi e só! O que se vê no cotidiano daquelas famílias são apenas colaborações de grupos de defesa dos Direito Humanos e voluntários. Uma situação surreal em 2012. Onde está o Estado Democrático de Direito? Certamente se acertando com o "respeitável empresário" Naji Nahas e seus obscuros interesses.
Tudo isso só confirma que vivemos uma democracia burguesa onde o que prevalece é o poder econômico em todas as situações e isso faz com que não exista nenhuma diferença para um governo militar do qual nos livramos apenas teoricamente.
Seguimos na luta por um país livre, democrático e que respeite os Direitos Humanos!
Assista abaixo ao depoimento de uma ex-moradora de Pinheirinho e que estava abrigada no Caic:
SOMOS TODOS PINHEIRINHO!
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