Desde os primórdios o ser humano se depara com uma
reflexão acerca do significado da palavra ética. Até que ponto a
respeitamos e a deixamos de respeitar? Parece-me oportuna essa questão
no âmbito educacional, principalmente, no momento histórico em que
vivemos.
A ética se propõe a respeitar limites do que
se estabelece como bom ou mau sob o prisma da condição humana que se
reconhece abraçada a princípios universais e morais. Ela norteia a
conduta do homem na sociedade. Mas tal percepção se mostra em constante
conflito no tocante a uma das mais importantes áreas da vida humana; a
educação que se vê voltada a um sistema que trata consciência como
mercadoria. O que prevalece e dá sentido às relações políticas,
econômicas e sociais são os conceitos de competitividade, qualidade
total, eficiência e eficácia. Tudo englobado em um paradigma que forma
pessoas para a conquista do sucesso.
Esse sistema tem como foco o mercado e,
literalmente, vende a idéia de que o lucro será a salvação para todos.
Ocorre que não há como unir seres humanos e suas necessidades mais
básicas com a competitividade que finge lembrar de temas fundamentais
para a existência de uma sociedade saudável.
A educação se apresenta dominada pela ética
capitalista e vejo esse fato sinônimo de caos. A educação deve seguir à
risca a busca da prática da liberdade de pensamento sem imposições.
Imposições essas que o mercado entende como válidas. A liberdade de
pensamento deve ser estimulada através de reflexão e conhecimento e não
através de produtos e lucro.
Verifica-se aqui a dualidade citada na obra
de Paulo Freire entre a pedagogia dos dominantes, onde a educação
existe como prática da dominação (ética capitalista), e a pedagogia do
oprimido que tenta se libertar dela (ética educacional).
Nesse cenário a ética educacional dá lugar à
mera condução conveniente ao sistema do que se propõe a ensinar e a
aprender. Uma posição de interesse mercadológico e não mais no
interesse da qualidade do ensino.
Essa percepção é assustadora porque não
apenas a escola passa a perder qualidade em seu corpo docente, mas
também no seu corpo discente que, por sua vez, passa a dar maior
importância a assuntos que o sistema dominante lhe impõe fazendo com
que o caminho para a libertação do pensamento via filosofia, sociologia
e história se tornem assuntos enfadonhos porque tais temas não são
vendidos todos os dias como inúmeros produtos que prometem o “céu na
terra”. A ética capitalista é a da competitividade e se constrói na
corrida para atender a necessidades do mercado. A ética da educação é a
da não competitividade e se constrói lentamente para atender as
necessidades humanas.
A escola deve utilizar a pedagogia para
conseguir transmitir ao aluno o, efetivo, exercício da cidadania
defendendo os direitos humanos, as diferenças de cor, credo e religião,
liberdade, igualdade de oportunidade e a dignidade humana, mas o que
se verifica é que nenhum desses fatores é transmitido uma vez que a
educação sucumbiu a uma fria relação de custo-benefício.
A experiência educativa não pode ser
simplesmente treinamento técnico. É necessário ter o caráter formador.
Ensinar exige aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de
discriminação, exige o reconhecimento e a assunção da identidade
cultural, exige consciência de que nada está acabado e sim que tudo
recomeça, exige respeito à autonomia, exige humildade; ou seja, tudo o
que a práxis do mercado não reconhece.
A ética na educação deve enxergar o ser
humano enquanto ser inconcluso, ou seja, sempre em busca do
aperfeiçoamento da verdadeira condição humana e não a que se refere o
capitalismo que busca nessa palavra apenas mais um caminho para o
crescimento do lucro aprisionando a pessoa no mundo do TER retirando-a
do mundo do SER.
As pessoas passam a ter importância apenas
para a produção do sistema hegemônico evitando que tenhamos a noção de
que a possibilidade de se fazer mudança reside em cada um de nós. A
nossa relação com o mundo deve se dar por nós mesmos e não por
terceiros.
É necessário encararmos a luta contra a
ideologia fatalista vigente que afirma cinicamente que a sociedade que
aí está é a única possível se negando a fomentar o sonho e a utopia;
diferindo o trabalho (expressão da alma) do emprego (exploração da
força de trabalho) e impondo a vontade imobilizadora. Para tanto é
necessário nos reconhecermos como sujeitos éticos.
Cabe ao educador estimular no educando a
percepção da liberdade e do poder de mudança que ele possui. Trata-se
de uma árdua batalha uma vez que tal tentativa seguirá na contramão do
que a sociedade do consumo registra na maior parte das mentes humanas,
mas, sem dúvida, é uma batalha que nos dá a oportunidade de ensinar e
aprender com o dia a dia da educação.
Lutemos pela reflexão e libertação honrando e respeitando a enriquecedora relação entre educadores e educandos.
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É hora de estabelecermos um pacto nacional por esta ética educacional descrita no seu artigo. Pela humanização de nossas cidades!
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