terça-feira, 31 de janeiro de 2012

SOMOS TODOS PINHEIRINHO

No último domingo e ontem estive junto com companheiros dos Advogados Progressistas, da Comissão Estadual de Blogueiros Progressistas do Estado de São Paulo, do CONDEPE, com autoridades e voluntários conhecendo de perto a violência sofrida pelos moradores de Pinheirinho, em São José dos Campos.

Antes de chegar, este sujo blogueiro imaginava testemunhar situações de desrespeito aos trabalhadores expulsos de suas casas com a tradicional truculência da polícia tucana de São Paulo. Ao me deparar com a área devastada e com os depoimentos dos moradores que foram jogados na rua percebi que a situação é muito pior do que a que o PIG divulga e a que eu imaginava.

No domingo estivemos no alojamento chamado Parque Morumbi e o que se viu era um total e absoluto desrespeito ao cidadão. Centenas de famílias amontoadas em um ginásio, em seus banheiros e vestiários e em uma quadra de bocha. Todos jogados pelo chão em colchões e com poucos móveis que puderam salvar de suas casas. Existem pessoas doentes, deficientes e especiais. Um local onde falta tudo. Comida, água, roupas e, principalmente, dignidade!

Na manhã do dia seguinte, nos juntamos ao CONDEPE (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos das Pessoa Pessoa Humana) e a dezenas de voluntários na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que logo após a invasão policial serviu de abrigo aos desalojados e onde ocorreram inúmeros casos de violência contra o povo de Pinheirinho.

Lá nos dividimos em quatro grupos para que fosse possível ouvir os desabrigados que se encontram em quatro locais na periferia da cidade (Caíque Dom Pedro, Vale do Sol, Ubiratan Maciel e Parque Morumbi). Através de um formulário de denúncias e atendimento, o mutirão entrevistou mais de 500 pessoas nesses locais.

Estive junto ao grupo que visitou o abrigo da Escola Estadual Caíque Dom Pedro, com 800 desabrigados. Ao chegarmos fomos barrados no portão de entrada pela guarda municipal que fixou base ali. Depois de alguns minutos de negociações com a chefe da equipe de assistência social que lá se encontrava, a entrada naquele espaço público foi liberado para nós, simples cidadãos brasileiros.

Iniciamos os trabalhos diante de cenas tristes e revoltantes como as que presenciamos no dia anterior no outro abrigo. Todas as salas de aula, o ginásio e o pátio da escola estão tomados por colchões pelo chão, muitas crianças, animais mortos (pombos e ratos) e sujeira. Lá também falta dignidade apesar da presença da "assistência social" da prefeitura que com alguns agentes tem recebido doações de roupas e cadastrado os desabrigados para o tal "aluguel social" que pretende pagar R$500,00 aos cidadãos expulsos de seus lares para que todos possam encontrar outra moradia.

Os relatos dos desabrigados são assustadores. Muitos reclamam da alimentação entregue em marmitex por uma empresa contratada pela prefeitura. Afirmam que a comida é ruim, muitas vezes estragada e nunca muda.

Na maioria dos depoimentos colhidos, é possível verificar que muitos perderam tudo como colchão, cama, fogão, geladeira, máquina de lavar roupas, brinquedos, discos, televisão, computador, armários, instumentos de trabalho, além do seu lar construído ou comprado com o esforço de anos.

Todos afirmam que os policiais chegaram no domingo (22/01) às 05 da manhã, com gritos de ordem para que todos saíssem de suas casas, com ameças e agressões. Além disso, helicópteros da PM sobrevoavam o bairro fazendo vôos razantes sobre as casas e jogavam bombas de gás lacrimogênio nas residências.

Não houve qualquer comunicado anterior sobre o cumprimento da ordem judicial de reintegração de posse. Os marginais travestidos de policiais atiravam bombas de gás, balas de borracha e gás pimenta nas pessoas. No desespero, os moradores tentaram tirar os seus pertences de suas casas mas foram impedidos pelos policiais que ordenavam para que apenas mulheres retirassem rapidamente o que achavam ser o mais importante. Junto a isso, os tratores seguiam derrubando com agilidade as casas. Não havia tempo para salvar nada, além de documentos. Sendo que em diversos casos nem os documentos foi possível salvar restando apenas a roupa que vestia. Vários moradores mostraram marcas de agressão por todo o corpo. Covardia!

Os depoimentos foram realizados de forma dramática com trauma e muito choro. Foi difícil de conter a emoção. Vários me chamaram mais atenção, dentre eles aqueles que afirmam que a tropa de choque perguntava aos moradores expulsos "De quem é o Pinheirinho agora?" e seguiam batendo com o cassetete no escudo aos gritos de "O Pinheirinho é nosso!". Além disso obrigava os moradores a gritarem "O Pinheirinho é de vocês".

Além da tristeza e revolta, os desabrigados estão preocupados com o futuro incerto. Não sabem onde poderão morar devido ao baixo valor do "aluguel social" e do preconceito sofrido no momento em que se apresentam ao proprietário do imóvel como ex-morador de Pinheirinho. O aluguel é negado imediatamente.

Desmentindo o afirmado pelo PIG, pela polícia e pelo Estado (na verdade são sinônimos), muitos moradores afirmam que testemunharam a morte de uma menina e a agressão a um senhor de 70 anos muito conhecido no bairro que foi retirado de sua casa, algemado, levado por uma viatura e está desaparecido. Era evidente também o receio de determinados moradores no momento de contar tudo o que viram. Alegavam que nós íamos embora e eles ficaríam sem proteção nenhuma diante da "polícia". Aliás, entre os "assistentes sociais", foi possível perceber que um deles rodeava os depoimentos para poder ouvir o que estava sendo dito.

Depois de muito trabalho, chegou a hora de partir. Muitos ainda queriam falar e isso fez com que a nossa saída fosse ainda mais delicada. Foi quase impossível deixar aquelas pessoas sofridas, violentadas no que elas possuem de mais importante, a dignidade.

Por volta das 19h ocorreu uma audiência pública na Câmara Municipal de São José dos Campos com a presença de desabrigados do Pinheirinho, entidades ligadas aos direitos humanos e parlamentares que chegaram a conclusão que realmente houve uma ação totalmente descontrolada e criminosa em Pinheirinho e que ainda há muito a fazer para ajudar aquele povo.

Diante de tudo o que vi, afirmo sentir vergonha de viver em uma sociedade capaz de práticas inclassificáveis como a ocorrida em Pinheirinho. Saí de lá ainda mais convicto de que as pessoas que possuem o mínimo de sensibilidade humana precisam se unir e ajudar aquele povo. Assim como afirmei a vários moradores que tive o prazer de conhecer e me solidarizar, voltarei em breve para lá.

SOMOS TODOS PINHEIRINHO!

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Um comentário:

  1. Estive la tbem .Eles contaram do trabalho de vcs estão na esperança que algo aconteça para ajuda-los .volte mesmo eles precisam de amor .

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