Na França, os estádios construídos para o Mundial de 1998 são utilizados para várias atividades, menos o futebol. Aqui será igual. Ou pior.
Por Sócrates
Dá para entender a volúpia com que os organizadores de um mundial de futebol se empenham para os estádios que receberão seus jogos serem modernos, imensos, desnecessários e caríssimos. E os interesses passam ao largo de qualquer tipo de planejamento ou critério; até porque quem determina isso ou aquilo nem mesmo é nascido ou habita o país que recebe a Copa. Daqui a poucos anos teremos mais um mundial Fifa no Brasil.
Num país ainda por se desenvolver, às voltas com imensos problemas sociais e econômicos, a regra continuará a mesma: construir ou reformar vários estádios inviáveis, irracionais e que provocarão um desperdício de recursos dos quais nós não poderíamos prescindir para minimizar as múltiplas carências nacionais.
Quatro desses gigantes devem permanecer sem quase nenhuma utilidade pelo resto de suas vidas úteis. São aqueles que estão em praças sem grandes atrações esportivas em nível nacional e deverão servir — e olhe lá! — para os torneios regionais, caso haja algum clube interessado em mandar suas partidas em um equipamento gigante que nunca estará lotado. E ainda localizado longe da maioria de seus torcedores e com dificuldades de acesso, além do alto custo de sua locação e manutenção, que inviabilizaria a sua utilização a não ser que se façam acordos espúrios ao Erário como no Engenhão, no Rio de Janeiro, alugado ao Botafogo por um valor muito abaixo do que se esperaria, dado o volume de dinheiro ali investido.
A não ser que muita coisa mude em pouquíssimo tempo — o que obviamente seria nada mais que um milagre –, os estádios de Manaus, Natal, Brasília e Cuiabá ficarão às moscas. Isso sem falar no do Recife, onde todos os grandes clubes possuem estádios próprios e possivelmente não usarão aquele que será erguido para o mundial.
Alguns já começaram suas obras. Pontualmente temos alguns bons projetos, como o do Mineirão, que poderá se tornar uma verdadeira arena moderna e funcional. Já o Maracanã está novamente de portas fechadas para reformas.
O maior estádio do mundo – como é chamado desde a sua construção – está sofrendo mais uma das inúmeras reformas feitas nos últimos anos. E que jamais lhe deram a cara necessária para chamá-lo de moderno, muito menos de funcional. Já se gastou ali uma infinidade de recursos que de nada adiantou. Quem é que paga essa conta? Quem são os responsáveis por todo o desperdício? Quem paga a conta todos sabemos: nós. Mas nunca ninguém é responsável. E, creio, nada se modificará.
Em São Paulo, estão fazendo o possível e o impossível para inviabilizar o Morumbi pelos mesmos motivos anteriormente citados. Há pouco apareceu um projeto para um estádio do Corinthians, que além de ter claramente objetivos eleitorais tenta abocanhar um quinhão de verba pública para talvez se tornar realidade.
Enfim, raramente percebemos qualquer preocupação com a viabilidade do investimento, quando se realiza uma obra pública. Poucos se dão ao luxo de avaliar o futuro da empreitada e o que importa quase exclusivamente é encontrar fórmulas para a execução do projeto, mesmo que este, no futuro, fique parecendo um gigante adormecido. E que se dane o capital enterrado ali.
Nossos estádios são quase exclusivamente utilizados para jogos de futebol, ainda que se venda a ideia de que teremos arenas para eventos diversos. Como o futebol brasileiro de há muito se afastou de seu público, o uso de algumas praças esportivas tornou-se, na maioria das vezes, economicamente inviável. Como consequência, os clubes estão à procura de locais mais acessíveis e menos custosos para promover seus espetáculos. Imagina-se então que esses estádios poderão, em pouco tempo, ficar às traças durante boa parte da temporada. Ou não?
Bem, mas isso é algo para constatarmos mais à frente. Não é difícil prever, contudo, que teremos dificuldades para utilizar alguns desses estádios a partir de 2014. Até na França e Itália isso ocorreu; o estádio da França, após o Mundial de 1998, vem sendo utilizado para tudo, menos futebol, porque o PSG, time da capital francesa, continua a “mandar” seus jogos no antigo estádio Parque dos Príncipes.
Aqui será igual. Nem mesmo devemos usar as instalações para os outros esportes como lá, porque, por estas plagas, o único a se dar valor é o futebol. Seria extraordinário o novo governo comprar uma briga para valer e deixar claro aos interessados e ao povo brasileiro que esse evento é privado e deve ser custeado por dinheiro privado. E ponto!
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